Buraco Macular Idiopático: Atualização Diagnóstica e Conduta Cirúrgica Baseada em Evidência
- Redação RetiNews

- Apr 16
- 3 min read
Updated: Apr 17
O buraco de macular idiopático é uma afecção retiniana de caráter progressivo, com potencial impacto funcional significativo, principalmente em pacientes idosos. O diagnóstico precoce por meio de tomografia de coerência óptica (OCT) e a intervenção cirúrgica oportuna, com técnicas como a vitrectomia via pars plana e peeling da membrana limitante interna, são elementos fundamentais para o sucesso anatômico e visual.

Epidemiologia e Fisiopatologia
O buraco macular idiopático afeta com maior frequência mulheres na sexta ou sétima década de vida. Embora sua etiologia não esteja completamente esclarecida, acredita-se que a tração anteroposterior do vítreo sobre a fóvea, em combinação com alterações estruturais da membrana limitante interna (MLI) e contrações tangenciais, desempenhem papel central na ruptura foveal.
A fisiopatogênese envolve um desequilíbrio entre forças tracionais e a resistência biomecânica da retina foveal, levando à desorganização do tecido neural e abertura focal da fóvea.
Quadro Clínico e Diagnóstico
Os sintomas incluem:
Metamorfopsia (distorção de imagens)
Escotoma central
Redução progressiva da acuidade visual
Na avaliação clínica, o exame de fundo de olho pode sugerir a presença de um defeito foveal, mas a Tomografia de Coerência Óptica (OCT) é o padrão-ouro diagnóstico. A OCT permite:
Avaliação da morfologia foveal em alta definição
Medida do diâmetro mínimo do buraco
Determinação da presença ou não de descolamento do vítreo posterior
Visualização de alterações associadas, como edema cistoide ou membranas epirretinianas
Classificação Morfológica - Buraco macular
A classificação de Gass permanece útil do ponto de vista clínico-cirúrgico:
Estágio 1A/1B: sinais iniciais de desorganização foveal sem ruptura completa
Estágio 2: buraco pequeno (<400 µm), geralmente com vítreo ainda aderido
Estágio 3: buraco completo com vítreo parcialmente aderido
Estágio 4: buraco com descolamento vítreo posterior completo
A classificação pelo OCT, com base no International Vitreomacular Traction Study Group, complementa a análise ao categorizar os buracos com base no diâmetro mínimo:
Pequeno: <250 µm
Médio: 250–400 µm
Grande: >400 µm
Tratamento Cirúrgico: Vitrectomia com Tamponamento
O tratamento de primeira linha é a vitrectomia via pars plana, envolvendo os seguintes passos técnicos:
Remoção do vítreo posterior
Peeling da membrana limitante interna, muitas vezes com corantes como azul brilhante ou verde indocianina
Tamponamento com gás expansível (ex: SF6, C3F8)
A posição cefálica pós-operatória, com o paciente em decúbito ventral por 1 a 7 dias, continua sendo recomendada, especialmente em casos com buracos de maior diâmetro ou bordas irregulares.
Resultados Funcionais e Anatômicos
Estudos demonstram taxas de fechamento anatômico entre 85% e 100%, com melhora funcional significativa em cerca de 65% dos pacientes, dependendo do tempo de evolução da doença, diâmetro do buraco e condições retinianas adjacentes.
Fatores associados a pior prognóstico visual:
Diâmetro >400 µm
Evolução >6 meses
Presença de alterações atróficas adjacentes
Comorbidades como degeneração macular relacionada à idade
Avanços e Perspectivas Futuras
Nos últimos anos, técnicas como o inverted ILM flap, especialmente para buracos maculares grandes e miopias altas, têm mostrado resultados superiores em fechamento anatômico.
Além disso, investigações sobre o uso de implantes autólogos de retina, biomateriais viscoelásticos e terapia regenerativa com células-tronco estão em andamento e representam perspectivas futuras para casos refratários.
O manejo do buraco de mácula exige uma abordagem individualizada, baseada em critérios morfológicos definidos por OCT. A experiência cirúrgica, aliada ao diagnóstico precoce e à escolha adequada da técnica, são determinantes para o sucesso terapêutico.
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