Transplante Total de Olho e Face: o marco que redefine os limites da cirurgia reconstrutiva
- Redação RetiNews

- Oct 17
- 3 min read
AAO 2025 – Retina Subspecialty Day | NYU Langone Health
Resumo
O transplante combinado de face e olho inteiro, realizado pela equipe da NYU Langone Health, representa o avanço mais significativo da história da reconstrução craniofacial e da oftalmologia moderna. O caso pioneiro, publicado no JAMA em novembro de 2024, descreve a primeira cirurgia bem-sucedida de transplante total de globo ocular humano com coaptação direta do nervo óptico e injeção local de células-tronco CD34+.
Apresentado durante o AAO Retina Subspecialty Day 2025, o estudo reafirma a viabilidade anatômica e funcional do globo transplantado, com perfusão retinocoroideana preservada, pressão intraocular fisiológica e resposta fotossensível detectável ao eletroretinograma (ERG), mesmo na ausência de percepção visual.

Contexto clínico e inovação
O paciente, homem de 46 anos, sofreu queimadura elétrica de alta voltagem, resultando em perda extensa de tecidos faciais e do olho esquerdo. Dois anos após o acidente, foi submetido à reconstrução simultânea de face e globo ocular.
O procedimento foi fruto de uma década de pesquisa translacional em vascularized composite allotransplantation (VCA), culminando na aplicação inédita das seguintes estratégias:
Planejamento cirúrgico tridimensional (3D) personalizado para garantir alinhamento ósseo preciso;
Anastomose microvascular entre a artéria temporal superficial do doador e a artéria oftálmica do receptor, assegurando perfusão imediata do globo;
Coaptação direta dos nervos ópticos do doador e receptor, uma técnica nunca antes realizada em humanos;
Injeção local de células-tronco CD34+ derivadas da medula óssea do doador, com efeito imunomodulador e neurotrófico.
“Mesmo sem recuperação visual, a manutenção da viabilidade ocular e a resposta retiniana à luz são conquistas que até recentemente pertenciam à ficção científica.”— Eduardo D. Rodriguez, MD, DDS – NYU Langone Health

Resultados funcionais e achados de imagem
🔬 Evidências morfofuncionais relatadas no artigo (1 ano pós-transplante)
OCT (Optical Coherence Tomography): camadas retinianas internas atróficas, mas com preservação parcial da ellipsoid zone;
Angiografia fluoresceína/ICG: perfusão retinocoroideana robusta e estável por até 148 dias;
ERG: resposta fotoreceptora residual (amplitude máxima 9,0 μV / latência média 36,5 ms);
fMRI e dMRI: evidência de atividade cortical occipital associada à estimulação luminosa do olho transplantado;
Padrão de rejeição: ausente, sob imunossupressão tripla (tacrolimus, micofenolato, prednisona).

“A integridade vascular, a resposta eletrofisiológica e a estabilidade estrutural do globo comprovam que o transplante ocular total é viável.”— Vaidehi Dedania, MD – NYU Department of Ophthalmology
Desafios neurobiológicos - transplante total de olho humano
A regeneração axonal do nervo óptico permanece o principal obstáculo. Por integrar o sistema nervoso central, a reconexão funcional exige crescimento orientado dos axônios até o quiasma óptico e reintegração sináptica cortical, um processo ainda não reproduzido em humanos.
A equipe da NYU investiga abordagens combinadas de neuroengenharia, imunomodulação e estimulação elétrica retiniana, com apoio do consórcio VISION (Viability, Imaging, Surgical, Immunomodulation, Ocular preservation, and Neuroregeneration) — projeto de US$ 56 milhões financiado pela ARPA-H, co-liderado por Stanford e Pittsburgh.
Implicações futuras
A consolidação desse protocolo estabelece as bases para:
Transplantes oculares isolados em pacientes com anóftalmos pós-traumático;
Aplicação de terapia celular regenerativa em neuropatias ópticas;
Integração entre neuroimagem funcional e bioengenharia de tecidos para rastrear reconexões neurais.
“Mesmo restaurar 10% da visão significaria transformar a independência de milhões de pacientes.”— Shane Liddelow, PhD – NYU Langone Neuroscience Institute
Conclusão
O transplante total de olho humano, aliado à reconstrução facial, inaugura uma nova era na medicina regenerativa e na oftalmologia reconstrutiva.Ainda que a visão funcional não tenha sido recuperada, a sobrevivência do globo, preservação retiniana e atividade cortical detectável configuram o primeiro passo clínico concreto rumo à restauração da visão por transplante. Abaixo fotos do congresso mostrando 2 anos de evolução pós transplante.
Referência
Ceradini DJ, Tran DL, Dedania VS, et al. Combined Whole Eye and Face Transplant: Microsurgical Strategy and 1-Year Clinical Course. JAMA. 2024;332(18):1551–1558. doi:10.1001/jama.2024.12601


































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